Hub, na área de informática, é um equipamento utilizado para realizar a conexão de computadores de uma rede e transmitir informações entre essas máquinas. O termo acabou adotado por outros campos. Um hub comunitário, por exemplo, é um espaço de conexão e potencialização de coletivos e pessoas que buscam o desenvolvimento dos territórios onde atuam. Isso permite que troquem experiências, ampliando suas potencialidades. Forma-se, assim, uma teia de inovação, fortalecendo as organizações que a compõe.

Foi a partir dessa ideia que, em 2020, o Programa Cidadania Ativa, da Fundação FEAC, iniciou o desenho de um hub de cidadania ativa no Campo Grande, em Campinas, região marcada pela vulnerabilidade social. Além de oferecer espaço físico e equipamentos de apoio, o hub é um local de formação, mobilização de recursos, interação, e um fomentador do exercício da cidadania.

Na quarta e última matéria da série sobre coletivos, vamos conhecer mais sobre essa iniciativa de criar uma rede para fomentar ações comunitárias e superar desafios.

Marcela Doni, analista de projetos do Cidadania Ativa, explica que se buscava “uma maneira de estimular a prática efetiva da cidadania dentro das próprias comunidades, para que houvesse uma continuidade e as pessoas se tornassem parte da mudança que precisam”.

Depois de um processo seletivo com 27 organização da sociedade civil (OSC), a Casa Hacker, que atua na defesa dos direitos digitais e da educação digital, foi escolhida para ser articuladora do hub.

Novo nome, novos desafios

Com a Casa Hacker à frente do projeto, a iniciativa, antes chamada Hub de Cidadania Ativa, ganhou um novo nome, a fim de gerar identificação com a comunidade: Hub Quebrada em Movimento.

O próximo desafio foi mapear coletivos da região do Campo Grande para compor a rede. O único critério para inscrição era que atuassem na região, e o projeto estava aberto até mesmo a grupos que ainda estivessem sendo idealizados. “Escolhemos 15 coletivos. Muitos impactam um raio pequeno do território, como um bairro ou uma rua, mas estão se movimentando. São grupos diversos que vão aprendendo a criar conexões. O nosso papel é de conector, potencializando que eles se conectem com as mesmas ideias e propósitos”, diz Eliane Castro, gestora do hub.

O primeiro grande evento do Quebrada em Movimento foi o Festival de Ideias Comunitárias, que se iniciou no dia 13 de abril e contou com um mês de eventos virtuais, como palestras, oficinas e atividades culturais abertas ao público, além de mentorias para os coletivos. No fim do festival, oito coletivos apresentaram suas propostas para uma banca da Casa Hacker e aceitaram o desafio de seguir no processo.

A partir de junho, a equipe da Casa Hacker e convidados externos vão oferecer uma trilha de capacitação aos oito coletivos por dois meses, processo que inclui mentoria sobre elaboração de projetos, gestão financeira e organização de equipe.

“São grupos diversos que vão aprender a criar conexões. O nosso papel é de conector, potencializando que eles se conectem com as mesmas ideias e propósitos.”

Eliane Castro


Inovação

No momento, os coletivos estão se preparando para o início das mentorias, que vão demandar a elaboração de um projeto. No final dessa etapa, cinco vão ser selecionados para compor oficialmente o Hub Quebrada em Movimento, recebendo assessoria e capital semente para investir nas suas atividades.

As PsicoPretas é um dos coletivos da jornada. Formado em 2018, reúne psicólogas voluntárias que oferecem atendimento psicoterapêutico para a população negra e periférica de Campinas e região, além de realizarem rodas de conversas online sobre saúde mental.

“As ações são pautadas pela convicção de que o fortalecimento psíquico da população negra colabora para seu empoderamento e fortalecimento, sua visibilidade e aceitação”, explica Larissa Acaiabe, integrante do coletivo, que acrescenta: “O hub é extremamente necessário para o movimento social. Acreditamos no movimento em coletivo e estamos felizes em fazer parte desse projeto incrível”.

Nesta fase, além das mentorias, o Quebrada em Movimento se prepara para oferecer um espaço de trabalho compartilhado aos coletivos: a Casa de Cultura Parque Itajaí. Parceira do projeto, a casa está passando por obras para recebê-los.

A FEAC segue na parceria com a Casa Hacker até o primeiro semestre de 2022, acompanhando e monitorando o projeto para coletar aprendizados para um próximo hub. A ideia é que, no futuro, o Quebrada em Movimento se torne uma sólida rede de pessoas, organizações e coletivos e consiga caminhar de forma autônoma. Os primeiros passos para isso já foram dados.

Série sobre coletivos

Esta é a última matéria da nossa série sobre coletivos! Confira as anteriores:

Coletivos permitem fazer política de modo inovador e menos burocrático

“Coletivizada” fortalece coletivos das periferias de Campinas

Coletivizada: conheça cinco coletivos que atuam na periferia de Campinas

• “Quebrada em Movimento”: hub articula rede de coletivos na periferia 

 

 

Por Laíza Castanhari