Jovens frequentam oficinas e com o celular produzem vídeos para evidenciar suas comunidades

(por Ariany Ferraz)

Para dar visibilidade aos espaços e fortalecer o pertencimento aos territórios nos  bairros Jardim Bassoli, Sírius e Abaeté foram produzidos filmes a partir do olhar dos jovens moradores. Os materiais são resultado de oficinas de vídeo, realizadas entre dezembro de 2017 e março de 2018, do projeto ‘Escola de Transformação’ em parceria com a Ideia Coletiva. As oficinas tiveram como objetivo a formação de jovens e crianças menores de 18 anos dos residenciais. As produções foram feitas com celulares e são compostas por animações em stop motion, documentários e ficções.

Tudo começou no ano passado com um curso de produção de documentário, que resultou em três produtos finais, um de cada bairro, com temáticas diversas: mulheres empreendedoras do Abaeté, ocupações comerciais de terrenos do Sirius e autorretrato do jovens do Bassoli. Um dos filmes foi inclusive premiado no Festival Estudantil de Guaíba, como melhor documentário produzido por jovens. Com o sucesso da experiência, foi elaborado um novo curso, mais prático e modular, que abarcou diversos aprendizados, desde ficção, stop motion, documentário, entre outros. Foram ensinadas técnicas de produção desde o roteiro, fotografia estática e cinematográfica, direção, som, até a edição.

A Escola de Transformação é um projeto do Instituto Elos que oferece atividades gratuitas para formação, realização e mobilização de pessoas interessadas em transformar o mundo a partir de ações comunitárias. O projeto conta com apoio institucional da Fundação FEAC, que promove o Programa Desenvolvimento Local, cujas iniciativas contam também com a parceria do Instituto Elos.

A arte de captar a realidade

Além da representatividade local, com poucos recursos foi possível reconhecer e valorizar a comunidade, incentivando a exercerem a cidadania e atuarem na dinâmica e transformação do território. Música, infância, cultura e cotidiano são algumas das diversas temáticas trabalhadas e escolhidas a partir da percepção dos participantes. “Reflete não só espaço, já que é constantemente retratado. Mas serve também como um registro de época ao trazer por exemplo o tipo de brincadeira que as crianças estão mais acostumadas”, avalia Roberto Limberger, educador do Ideia Coletiva, que dirigiu os vídeos.

As dificuldades com o transporte público e o olhar feminino sobre o funk são exemplos de temas que ilustram a capacidade de trazer o olhar da comunidade e dar voz ao seus integrantes. “Você também vê uma espécie de conscientização e transformação que acaba acontecendo”, completa Roberto.

Marcelle, uma das jovens participantes, conta que já tinha um canal no youtube e depois das oficinas pode melhorar sua produção que costuma abordar a realidade do bairro e propõe debates sobre preconceito, segurança e conscientização. “Mudou muita coisa, meus vídeos melhoraram muito”, afirma.

A experiência proporcionou o exercício da criatividade, ao transformar ideias em filmes, mas além disso gerou um ‘protagonismo efetivo’, avaliou Daniel de Almeida, educador nas oficinas de vídeo. “Dar a visão do audiovisual permite mostrar como a tecnologia é uma ferramenta de construção, uma máquina de transformação… De mostrar as possibilidades que se tem através desse registro, de como eles conseguem atingir outras pessoas que não conhecem a sua realidade, compartilhar a visão que se tem do espaço que mora, atingir o mundo inteiro e gerar essa empatia”, reforçou.

Para Viviane Nale, líder do Programa Desenvolvimento Local, a atividade é muito importante para valorizar os potenciais dos locais, “colocando o cidadão como protagonista na mudança de sua realidade. Isso promove transformação!”, reiterou.

A intenção era usar uma tecnologia que os jovens pudessem replicar e continuar produzindo mais vídeos, por isso foi escolhido o celular como ferramenta, explicou Roberto. Desta forma,  os filmes produzidos foram disponibilizados também em canais no Youtube, Olha Aqui Abaeté, Sirius Light e Canal Bassoli, para que os jovens continuem produzindo e divulgando novos materiais.

Durante o processo produtivo também surgiu a ideia de elaborar o curta metragem “Quem quer ser um youtuber”, dirigido por Daniel Almeida e Thiago Elias, que aborda a relação dos jovens dos três bairros com a tecnologia dos vídeos e como as produções proporcionaram expressar ideias e sentimentos.

Para compartilhar o resultado das oficinas e lançar um documentário que retrata a experiência dos jovens moradores dos residenciais foi realizada uma Mostra de Vídeos. Os eventos se deram nas praças de lazer  de cada um dos três bairros, todas construídas através de mutirões. Nos encontros os filmes foram exibidos e cada  comunidade pôde votar nos seus favoritos, que receberam uma premiação simbólica.

Escola de Transformação

Projeto  do Instituto Elos que acontece em parceria com a DEMACAMP, executora da iniciativa Desenvolvimento Integrado e Sustentável dos Territórios (DIST), do Fundo Socioambiental da Caixa Econômica Federal, em Territórios de Minha Casa Minha Vida em Campinas.

 Programa Desenvolvimento Local

É uma iniciativa da Fundação FEAC que investe na mobilização comunitária com o objetivo de transformar territórios gerando bases para uma cidade mais inclusiva, acolhedora, eficiente e sustentável.