(Por Claudia Corbett)

 

Vitral, gráfica, mosaico, marcenaria, costura, serralheria, ladrilho hidráulico, culinária, doçaria artesanal, horta e jardinagem. Estas são algumas das alternativas de atividades oferecidas pelo Núcleo de Oficinas de Trabalho (NOT), da Associação Cornélia Maria Elizabeth Van Hyclama Vlieg, entidade parceira da Fundação FEAC. O projeto é referência de tratamento de saúde mental no Brasil. A iniciativa visa a inclusão social e geração de renda para pessoas com transtorno mental ou em situação de rua. São 700 diferentes produtos criados dentro das oficinas de trabalho que, atualmente, contam com a participação de pessoas com idades que variam de 18 a 80 anos.

A ressignificação tem sido positiva. Estas pessoas chegam à entidade encaminhadas pela rede socioassistencial ou por serviços de saúde. Passam por uma entrevista, focada no histórico ocupacional, pela qual se descobre o que elas gostam de fazer e suas possíveis potencialidades. Identificadas as habilidades, são conduzidas para as oficinas. Estes espaços alternativos e estratégicos contribuem na inclusão social. Criam condições para que estas pessoas passem a participar de forma efetiva de atividades produtivas. Unem trabalho, saúde, convívio social e cultura.

 

Oficinas como geração de renda

As oficinas funcionam como um empreendimento e cada uma tem sua autogestão. O grupo é estimulado a participar dos cálculos desde o custo do material até o preço da venda.

Os produtos resultantes são vendidos no Armazém das Oficinas, loja recém montada dentro da instituição parceira, Serviço de Saúde Dr. Cândido Ferreira, localizada no distrito de Sousas, em Campinas/SP, onde também acontecem as oficinas. “As vendas, feitas diretamente na loja, ainda estão aquém das necessidades destas pessoas. Por isso, buscamos outras frentes para vender no atacado por intermédio de participações em feiras de lojistas”, contou Cleuza Ogera Cayres, gerente do NOT.

Além da manufatura de produtos, há as oficinas de serviços. Na agrícola, cerca de 60 participantes prestam serviço à comunidade unindo geração de renda à inclusão no mercado de trabalho. “Temos uma horta orgânica e quatro grupos de jardinagem. Dois grupos trabalham em condomínios com contrato fixo. Outros dois eventualmente prestam serviços de limpeza de jardim em casas particulares. Todos são acompanhados por monitores”, explicou Cleusa. Já os produtos da horta são vendidos no Armazém das Oficinas e ainda em feira realizada em um espaço cedido por uma agropecuária, no distrito de Sousas. Também há serviço de entrega das verduras todas as quintas-feiras, mediante encomenda por telefone

Ao final do mês, todos os participantes recebem o fluxo do caixa com as informações de entradas e saídas de dinheiro. “Mostramos o que tem de lucro e deixamos para que eles decidam como querem dividir”, explicou Cleusa. Em algumas oficinas, a divisão é feita por horas trabalhadas. Em outras, os rateios são mais elaborados. Há funções diferenciadas e para cada uma delas um determinado valor é considerado, baseado em uma pesquisa feita no mercado.

A lista de interessados para a inserção nesta terapia ocupacional é grande. A espera é longa. Muitas pessoas desistem ou não são mais encontradas. “Infelizmente, não temos como ofertar mais do que as 330 vagas. Quem entra, dificilmente deixa de fazer parte”, desabafou Cleusa. Para estas pessoas, o Núcleo de Oficinas de Trabalho (NOT) é uma oportunidade diferenciada de reabilitação para o trabalho e resgate da cidadania. Possibilita ainda a geração de renda que dá autonomia aos participantes.  Além disso, amplia a rede de relacionamentos e contribui para a qualidade do convívio familiar

São poucas as pessoas deste grupo que conseguem conviver novamente em sociedade, readquirir o hábito de trabalho, cumprir horário e se recolocar no mercado. Alguns destes são contratados pela Lei de Contas (Lei n° 8.213/91).

Segundo a assessora técnica do Departamento de Assistência Social da Fundação FEAC, Regiane Fayan, ainda há preconceito e pouco entendimento sobre a inclusão deste público nesta Lei. A Convenção sobre os direitos das pessoas com deficiência em seu artigo 1° define que pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial as quais em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade. “A discussão sobre o termo ’mental’ pode ser entendida como usuários da saúde mental. A Lei Brasileira de Inclusão não resolveu esta questão, porém a discussão no Brasil vem ocorrendo e o Ministério do Trabalho e Emprego da região de Campinas tem considerado este público na Lei de Cotas”, explicou Regiane.

Arte como reabilitação

Segundo a gerente do NOT, o trabalho artesanal tem como função a busca da reabilitação psicossocial. Nele as pessoas têm oportunidade de se expressar e mostrar sua habilidade. “A atividade não é opressora como uma linha de produção de indústria. O artesão conhece todo o processo que tem que ser feito. E há uma implicação maior com o que ele está fazendo, o conhecimento do processo e o pertencimento do grupo”, contextualizou.  Um trabalho manual que tem muitos ganhos. Desperta a criatividade e dá a possibilidade de se expressar. “Ainda há aumento da autoestima deles quando olham o produto pronto e falam: Fui eu quem fiz!”, comemorou Cleusa.

 

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