Projeto do Programa MOB da FEAC adota metodologia do Emprego Apoiado

(Por Diana Azevedo)

Em 2018 a Sorri Campinas, em parceria com o Programa Mobilização para Autonomia (MOB) da Fundação FEAC, iniciou o projeto Lab Inclusão, adotando a metodologia do Emprego Apoiado, com o objetivo de aumentar a empregabilidade de pessoas com deficiência.

Há mais de 30 anos, a Sorri Campinas realiza o trabalho de inclusão de pessoas com deficiência. Nesse processo histórico, surge em 1991 a Lei nº 8.213, a Lei de Cotas, cujo  objetivo é dar às pessoas com deficiência a possibilidade de trabalhar no mercado formal. Com isso, a Sorri Campinas percebeu a necessidade de desenvolver um trabalho mais respaldado na metodologia do protagonismo social e prática.

Essa metodologia faz com que a instituição ouça e acolha os desejos das pessoas com deficiência, identificando o que elas gostam de fazer, onde gostariam de trabalhar, e com responsabilidade trabalhar seus desejos e habilidades para que essa inclusão seja assertiva. Na outra ponta os potenciais empregadores também são trabalhados de modo que o processo de ter no quadro de colaboradores as pessoas com deficiência inseridas transcorra da melhor forma possível.  

Preparação para o mercado de trabalho: incluir para depois capacitar

O processo envolve uma triagem inicial, por meio de uma entrevista para identificar os interesses e habilidades das pessoas com deficiência. A partir dessa triagem a pessoa é encaminhada para um grupo correspondente às suas necessidades, onde desenvolve diversas atividades, antes, durante e depois de sua colocação no mercado de trabalho.

Uma das atividades oferecidas pela instituição, por exemplo, são os Jobs Clubs, grupos formados pelas pessoas com deficiência, que por meio de encontros semanais e com ajuda de um facilitador trabalham temas específicos sobre o processo de inserção ou recolocação no mercado de trabalho como definição de perfil, elaboração de currículo, utilização de redes sociais e demais ferramentas disponíveis para auxiliar nessa busca, dicas de entrevista, e finalmente, negociação de oferta de trabalho.

“Quando conhecemos pessoas geralmente perguntamos seu nome e o que a pessoa faz. O direito ao trabalho é um direito social, não apenas o “ganha pão”, mas uma ferramenta de reconhecimento e inclusão social. Todas as pessoas têm que ter acesso a esse direito. Dessa forma, por meio do projeto Lab Inclusão, trabalhamos para aumentar a empregabilidade da pessoa com deficiência e a Sorri Campinas, com anos de experiência nesta temática, aceitou o desafio de se capacitar na metodologia do emprego apoiado, cuja premissa é de que todos são empregáveis”, diz Regiane Fayan, líder do Programa MOB.

Porém, o trabalho vai além da preparação da pessoa com deficiência para ingresso no mercado. A Instituição também trabalha com as empresas, oferecendo palestras para os colaboradores e gestores, com o intuito de mostrar a importância de enxergar o outro, além da sua deficiência.

“A deficiência é uma característica da pessoa…quando fazemos essas palestras temos como objetivo que as pessoas façam uma autorreflexão das suas posturas no dia a dia, em relação a si, ao outro e ao próximo, independentemente de quem seja”, diz Ester Piza, gerente executiva da SORRI e coordenadora do projeto LAB Inclusão.

Barreiras

Esse trabalho com as pessoas com deficiência traz desafios para a instituição: conquistar a aceitação do mercado de trabalho e também a confiança dos pais e responsáveis por essas pessoas.

No que compete às empresas, uma releitura do censo de 2010, feita em julho de 2018, aponta que no país 6,7% dos brasileiros possui algum tipo de deficiência (visual, auditiva, motora ou intelectual). Com base nessa informação, o Centro de Estudos Sociais e Economia do Trabalho da Unicamp, em conjunto com o Ministério do Trabalho, constatou que só em Campinas são cerca de 35 mil pessoas com deficiências severas e graves, entre 18 e 59 anos, que estão aptas para o mercado de trabalho. Ainda, segundo esse estudo, o município conta com 7.008 vagas reservadas para o cumprimento de cotas, mas apenas 57,4% delas estão preenchidas.  fonte: https://bit.ly/2Da0Jt5)

Já na questão familiar, quando a instituição oferece a oportunidade de trabalhar a autonomia das pessoas com deficiência, quase sempre encontram resistência por parte dos responsáveis.

Para lidar com isso, a Sorri Campinas oferece aos pais orientação junto com profissionais da saúde e pedagogos, a fim de fazê-los incentivar a pessoa com deficiência a desenvolver cada vez mais as suas habilidades e dessa forma conquistar uma vida mais independente e autônoma.

Casos de inclusão

A Rede OBA de Hortifruti é parceira da Sorri Campinas há anos. Na unidade Galleria trabalham Yago e Jhonatan, o primeiro foi incluído por meio do Projeto Lab Inclusão.

Yago Michel de Oliveira Gonçalves, 19 anos, tem deficiência intelectual e começou a trabalhar no hortifruti há pouco mais de um mês. Lá encontrou um ambiente que lhe proporciona aprendizado e desafios diários. Esse é o primeiro emprego do jovem que busca conquistar crescimento e sucesso profissional.

“Está sendo bom, estou tendo um monte de experiência boa, estão me ensinando…é um ambiente calmo”, disse Yago.

Colega do Yago na mesma loja, Jhonatan de Carvalho Ribeiro dos Santos, 26 anos, já faz parte da empresa há mais tempo. Durante 2 anos e meio trabalhou na unidade do Bonfim e há quase um ano foi recontratado na unidade do Galleria. Ele tem deficiência intelectual e física, e se sente muito feliz no trabalho.

Essa satisfação não é somente por parte deles. Weberton Campos de Souza é gerente da unidade do Galleria e disse que todo o processo foi feito pelo RH da empresa, que fez as indicações dessas pessoas para o time. O Jhonatan foi o primeiro a ser contratado.

“Os feedbacks que eu havia recebido dele foram muito bons, muito positivos. Então a gente validou, e ele passou pelo processo de entrevista como todos os outros candidatos, e se saiu bem. Mostrou muito interesse em voltar para a empresa e desenvolver o trabalho que ele já tinha começado lá atrás, então a ideia foi mantê-lo na função”, conta o gerente.

Essas oportunidades que o mercado oferece são positivas para as pessoas com deficiência porque elas conseguem se relacionar socialmente, ter uma perspectiva de vida mais independente e desenvolver melhor as suas habilidades. Para quem convive com os colaboradores, especialmente colegas de trabalho e outros funcionários da empresa, a relação rende ótimos frutos.

Sobre a política da empresa e a relação com os colegas de trabalho, Weberton foi claro. “Não adianta só a gestão da loja, de repente, ter o interesse em ser participativa nessa questão da inclusão, a equipe de operação tem que estar imbuída do mesmo propósito”, comentou.

Segundo Weberton, na contratação do Jhonatan eles perceberam o potencial que o rapaz tinha e pensaram de que forma suas habilidades poderiam ser mais úteis na loja. Assim, deram a ele a oportunidade de trabalhar em outras funções e, consequentemente, desenvolver ainda mais outras capacidades. Com a experiência positiva dessa primeira contratação, eles então trouxeram o Yago para compor o quadro de funcionários.

Apesar de todo cuidado e cooperação da empresa em incluir essas pessoas, não existe a questão do tratar diferente. O objetivo do projeto Lab Inclusão, junto com a Sorri Campinas, é exatamente fazer com que a sociedade e as empresas enxerguem a pessoa, ao invés da sua deficiência.O gestor relata que quando necessário chama a atenção, corrige e pontua.

“Eu acho que essa é a principal forma de você demonstrar para a pessoa essa igualdade”, destacou Weberton.

Sobre a Sorri Campinas

A Sorri Campinas Campinas é uma instituição sem fins lucrativos, destinada a apoiar a realização de projetos de desenvolvimento social das pessoas com deficiência. Em 2019 a Sorri Campinas completa 32 anos e presta auxílio a todas as deficiências: física, visual, auditiva, intelectual, deficiências múltiplas e reabilitados do INSS. Para mais informações, acesse: https://bit.ly/2FLghE1

Sobre o Programa Mobilização para Autonomia (MOB)

O Programa Mobilização para Autonomia (MOB) é uma iniciativa da Fundação FEAC que investe em soluções com o objetivo de assegurar a inclusão efetiva das pessoas com deficiência. Se dedica a romper barreiras para que as pessoas com deficiência possam participar da sociedade e exercer plenamente seus direitos. Para mais informações, acesse: https://bit.ly/2TPlTSz