(Por Laura Gonçalves Sucena)

Na horta do Instituto Norberto tem alface, espinafre, salsinha, cebolinha, berinjela. Também tem arvores frutíferas, lavanda e erva-cidreira. Mas, mais que isso, a horta tem dedicação, amor, trabalho e ainda serve como uma terapia para o público atendido pela instituição.

Com o objetivo de garantir autonomia das pessoas com deficiência intelectual, o projeto Horta Terapia visa a participação de todos no processo de plantio e colheita.  O objetivo é que assimilem novos conteúdos e conceitos ambientais por meio de vivências inclusivas, melhorando a saúde mental, física e também nutricional.

Para o gestor ambiental Gabriel Pansani Siqueira, voluntário responsável pela horta, o projeto estimula o consumo consciente e hábitos ecológicos. “Para além do conhecimento ecológico e ambiental proporcionado pela iniciativa, tem o trabalho da parte motora, nutricional e alimentar e também novos conhecimentos que aos poucos são assimilados e ganho de autonomia. Há ainda a valorização do consumo de hortifrúti orgânico e os aspectos nutricionais têm se mostrado cada vez mais importantes para a alimentação e o desenvolvimento saudável”, explicou.

De acordo com a coordenadora pedagógica do Instituto, Denise Valarini, por meio da horta são ensinados conceitos ambientais e a importância de certos produtos na alimentação. Além disso, ainda há uma conexão entre a horta e as artes. “Eles aprendem a observar as cores, sentem as texturas, contemplam a natureza em si.  É um espaço sensorial onde os participantes usam todos seus sentidos nesse grande atelier”, afirmou.

Pensando no desenvolvimento psicomotor, a horta é um grande canteiro de aprendizagem. “O aprendizado é por meio daquilo que veem ou sentem. Tocar, sentir, cheirar, olhar, são fundamentais para o crescimento e fazem parte do aprendizado. Essa é a função da nossa horta sensorial” explicou Denise.

E muito além da melhoria nos hábitos alimentares, a horta ainda colabora com o fortalecimento de vínculos. São os valores do trabalho em equipe, do respeito, da colaboração que andam lado a lado para um interesse comum, a horta.

Dia a dia na horta

Para criar a horta, a primeira etapa foi cuidar do solo e preparar a terra. Depois houve o cultivo das mudas para o plantio. “Esperar as mudas crescerem se tornou um exercício porque tudo tem o seu tempo. Foi um período de espera e observação para se chegar à época da colheita e do consumo dos alimentos”, explicou Gabriel.

O Instituto acredita que a participação das crianças e adolescentes nas atividades de plantio e manutenção das hortaliças seja um dos passos para um aprendizado que os possibilite valorizar e ingerir alimentos mais nutritivos. Assim, com a horta pronta, o pessoal começou a colher os alimentos e a experimentá-los.

Segunda a presidente da instituição parceira da Fundação FEAC, Joselene de Souza Pinto, todos participam dos processos da horta, e isso estimula o consumo. “Muitas crianças não estavam acostumadas a comerem frutas, legumes e verduras, mas isso está mudando. Como são eles que cuidam, também querem provar e acabam gostando da comida. Isso é muito gratificante para nós”, garantiu.

Com os produtos em mãos, a equipe toda da Instituição, educadores e beneficiários, vão para a cozinha e preparam os alimentos.  É macarrão com molho de tomate, salada, lanche e bolos feitos com os produtos da horta. “­Eu gosto da horta e das frutas. Também gosto de fazer os lanches”, disse Mateus, de 13 anos. “Gosto de jabuticaba e de ajudar a fazer os sanduiches. Também gosto de macarrão e de molho de tomate”, completou Josué, 14.

E as famílias também levam os produtos para casa. “Todas as quintas-feiras fazemos a colheita e como temos muitas hortaliças, os pais acabam levando verduras para suas casas. Ou seja, o hábito da alimentação saudável, extrapola os muros da instituição”, frisou a presidente.

Atelier de arte

Focado no ensino da arte-educação, o Instituto Norberto Souza Pinto acredita que a arte desperta a autoestima e estimula o desenvolvimento cognitivo, motor e afetivo. Assim sendo, a instituição oferece oficinas de cerâmica, cinema, artes visuais, dança, teatro e música.

“As ações realizadas para com as pessoas com deficiência devem ser pautadas no paradigma da inclusão. Significa que devem ser inclusivas, com foco na garantia dos direitos e no trabalho para estimular o desenvolvimento da autonomia, para que tenhamos uma sociedade mais justa para com pessoas que por anos foram segregadas”, comentou Regiane Fayan, assessora técnica do Departamento de Assistência Social da FEAC.

De acordo com Denise, a horta acabou se tornando palco para as oficinas oferecidas pela Instituição. “Como nosso trabalho com as artes é muito intenso, pensamos em utilizar a horta como um espaço de reflexão e diálogo, proporcionando entendimento e posicionamento diante dos conteúdos artísticos, estéticos e culturais, incluindo as questões sociais”, pontuou.

Saiba mais: https://www.facebook.com/institutonorberto