Jovem Chef é desenvolvido pelo MAE Maria Rosa e tem foco em jovens de 15 a 24 anos

(Por Ingrid Vogl)

Ao entrar pela porta sempre aberta do Movimento Assistencial Espirita (MAE) Maria Rosa, durante os sábados, é possível sentir o aroma agradável vindo do refeitório da instituição.  Lá, das 9h às 15h, um grupo interessado e curioso de jovens entre 15 e 24 anos participa do curso Jovem Chef, que é desenvolvido gratuitamente desde junho, com o objetivo de oferecer noções básicas de gastronomia aos jovens, inseri-los no mercado de trabalho e incentivá-los a empreender nesta área.

No sábado em que esta matéria foi feita, os cheiros eram doces, de massa de bolo fresca, chantili e outras iguarias que facilmente desvendaram a aula de confeitaria. Desde o início do curso, os jovens já passaram por aulas sobre cortes, higiene, manipulação de alimentos; legumes; caldos e bases; molhos e massas; carne, peixe e frango; saladas e grãos; bolos básicos. O curso será concluído com o aprendizado sobre bolos decorados, doces e pães.

A professora e coordenadora do curso, Thais Magdalena Uliana é puro orgulho da turma de jovens cozinheiros. Ela conta que o curso mescla teoria, muita prática e aborda ainda o projeto de vida dos participantes. “Eles chegaram crus e foram pegando gosto, evoluindo. Eles não tinham muita organização e nem contato com alimentos, mas hoje os jovens têm noção de tempo, tempero, aproveitamento dos alimentos. O que a gente fazia antes em três horas, hoje fazemos em meia hora. Ver toda evolução acontecer é muito gratificante”, disse.

Esta é a primeira turma do Jovem Chef, com duração de quatro meses e que será concluída no dia 28 de setembro com um desafio e tanto: criar um menu completo, com entrada, prato principal e sobremesa, para oferecer às famílias dos jovens que serão convidadas para a data especial. “Muitos chegaram aqui desacreditados e hoje estão orgulhosos de tudo que estão construindo com a oportunidade que tiveram”, afirmou Thais.

Voluntários

Além da vontade da instituição e do interesse dos participantes, o curso de gastronomia também conta com chefs voluntários que fazem toda a diferença durante as aulas. Ana Carolina da Silva Giordano é uma das chefs voluntárias. Formada há sete anos e especialista em carnes, ela costuma dizer que participar do Jovem Chef é revigorante.

Ela conta que ficou sabendo que precisavam de voluntários para o curso e topou o desafio por acreditar que – como seu avô lhe ensinou – a única coisa que se leva para toda a vida é o conhecimento que se adquire, e que quanto mais se tem conhecimento e o compartilha, melhor seres humanos nos tornamos.

“O sábado é o melhor dia da minha semana, porque posso estar exausta de aulas extras ou de trabalhar em eventos, mas venho para cá e me renovo. A gente vive em uma realidade totalmente diferente desses jovens e sabe que a vida deles não é fácil. Mas o que se oferece aqui é uma grade curricular que equivale a um curso básico que se encontra no primeiro ano de faculdade de gastronomia. Então o que eles estão vivenciando é uma oportunidade única e a gente percebe que eles agarram com as duas mãos, e isso é muito gratificante. Eu não estou fazendo algo por eles. São os jovens que fazem por mim. No fim, acabamos ficando amigos”, disse.

Mente empreendedora

Victória Cristina dos Reis, 22 anos, não desgruda os olhos da professora e ouve atenta suas explicações técnicas. Ela sempre quer saber detalhes sobre precificação e armazenamento dos alimentos e se dedica quando coloca a mão na massa para as tarefas práticas do curso. “Sempre tive vontade de fazer um curso de culinária porque gosto de cozinha, mas nunca tive oportunidade de experimentar porque um curso é caro e em casa, a cozinha não é adaptada para mim. Quando fiquei sabendo do Jovem Chef, aproveitei a oportunidade e me surpreendi, porque achei que ficaríamos muito na teoria, mas fiquei feliz porque praticamos muito. Penso em futuramente, montar um restaurante acessível”, disse a jovem cadeirante.

Renan Domingos dos Santos, 20 anos, capricha na hora de praticar o que aprendeu com as chefs do curso. “Fiquei sabendo dessa oportunidade pela minha tia que viu no Facebook e me inscrevi. Já tinha noção de algumas coisas, mas aqui aprendi técnicas e a ter delicadeza para preparar os alimentos. As professoras são amorosas, receptivas e explicam muito bem. Penso em me especializar ainda mais e abrir meu próprio restaurante”, planejou.

Vitoria Beatriz Rodrigues dos Santos, 16 anos, é uma das mais empolgadas do grupo. Ela ajuda a finalizar os pratos, faz perguntas e caso sobre uma raspinha de chantilly, aproveita para provar o ingrediente. “Eu gostava de cozinhar, fazer bolos, mas até começar o curso, não sabia que gostava tanto. Foi aqui que descobri que cozinhar não é só um hobby, é o que quero levar como profissão. Eu estava em um momento meio perdida e este curso está sendo muito importante, porque me direcionou para muita coisa. Foi aqui que me encontrei definitivamente: aqui eu sei quem eu sou, de onde eu vim, para onde eu vou. Depois quero me inscrever num curso de confeitaria e seguir isso para minha vida”, disse a jovem.

Volta à origem

O Jovem Chef faz parte do programa Juventudes, da Fundação FEAC, e é realizado em parceria com o Movimento Assistencial Espírita Maria Rosa. O projeto foi selecionado por meio de um edital realizado no início de 2019 para eleger ações voltadas às juventudes para receber investimento social privado.

Segundo Tatiane Zamai, líder do programa Juventudes, os projetos do programa Juventudes voltados ao mundo do trabalho tem como premissa ampliar as possibilidades de escolhas dos jovens a partir de suas potencialidades, habilidades e desejos, fomentando novos espaços para o trabalho, o empreendedorismo e oportunidades para construção de seus projetos de vida. “O projeto Jovem Chef abre portas para que jovens que desejam trabalhar na área gastronômica, possam se desenvolver e a partir disso receberem apoio e direcionamento para atuarem neste campo profissional.Ouvir os sonhos de cada um desses jovens é o motor que nos impulsiona e nos movimenta”, afirmou.

“Há tempos temos vontade de desenvolver um projeto com foco na gastronomia e voltado para uma alimentação saudável, já que o MAE Maria Rosa foi criado há 51 anos e iniciou seu trabalho social distribuindo alimentos. Percebemos que aqui na região Norte, os jovens da faixa etária de 15 a 24 anos não estavam nas OSC e por isso o curso é direcionado a eles, para que sejam formados jovens autônomos, desenvolvendo suas habilidades gastronômicas e capacitados para o mercado de trabalho”, explicou Kelly Cristina Parro da Silva, coordenadora técnica da instituição.  A próxima turma do Jovem Chef tem previsão de início em outubro.

O programa Juventudes, do qual o Jovem Chef faz parte, investe na criação de espaços de participação e aprendizado social, autogeridos por jovens, com o intuito de incentivar a participação social propositiva e engajada com o desenvolvimento humano.

Saiba mais: https://www.feac.org.br/juventudes/

https://www.facebook.com/maemariarosa/