O Coletivizada foi criado, em 2020, para fortalecer coletivos de jovens que atuam em áreas de vulnerabilidade social de Campinas com diversas temáticas, como arte e cultura, educação, garantia de direitos e redução das desigualdades de gênero, classe e raça. Trata-se de um reconhecimento da importância que esse tipo de organização – muitas vezes informal e sem hierarquias – tem adquirido no cenário político brasileiro.

Para participar, era preciso desenvolver atividades de interesse da comunidade, relevantes à pauta das juventudes. O edital do projeto foi aberto em outubro de 2020, por meio de uma parceria da Minha Campinas, que promove a participação política das pessoas, com a Fundação FEAC.

Dos 17 coletivos inscritos, cinco foram selecionados e cada um recebeu R$ 8 mil para potencializar suas atividades. Além do recurso financeiro, os coletivos participaram de mentorias individuais e em grupo até maio, totalizando cinco meses. Os tópicos abordados nos encontros foram gestão, comunicação e sustentabilidade.

Por ser a primeira edição, o projeto visava entender o cenário de coletivos de Campinas. Amanda Souza, analista de projetos do Programa Juventudes, da FEAC, conta que apareceram grupos bem variados: “Recebemos desde inscrições de coletivos que tinham apenas um esboço de projeto até outros mais robustos, que queriam alavancar iniciativas que já estavam acontecendo”.

Os requisitos para inscrição foram apenas três: coletivos compostos por no mínimo quatro pessoas; com pelo menos metade dos integrantes entre 15 e 29 anos e que atuassem em áreas de vulnerabilidade social de Campinas, pelo bem da comunidade.

O projeto recebeu 17 inscrições e os escolhidos refletem a diversidade das iniciativas. Os selecionados foram: Margem Cultural (arte e cultura periférica), Movimento das Minas (questões de gênero), P2RCA (hip hop); Quilombo Iris de Jesus (cultura e educação) e Responsa! (cursinho popular).

Potencializar o que já existe

Os coletivos são essencialmente políticos, e nascem da vontade de se partir para a ação, como analisa Amanda Souza: “Os jovens se organizarem em prol de uma causa é mais que político. Já demonstra uma intencionalidade de lidar com uma determinada falta.”

A equipe do Coletivizada observou que a maioria dos coletivos inscritos já fazia acontecer, mesmo sem recursos. Almejar uma continuidade foi valorizado, ou seja, escolheram-se aqueles que buscavam uma mudança estrutural viável, e não apenas faziam uma ação pontual.

Na área da cultura, por exemplo, o coletivo Margem Cultural tem como objetivo alavancar o trabalho de artistas periféricos, realizando produções musicais e oferecendo assessoria de carreira. Já na área da educação, há o Responsa!, um cursinho popular idealizado por alunos e ex-alunos do colégio Colégio Técnico de Campinas que apostam na democratização da educação, para que mais alunos de escolas públicas tenham acesso a um ensino de qualidade.

A partir de uma proposta de projeto, definida pelos integrantes de cada coletivo, a equipe técnica do Coletivizada atuou para identificar dificuldades e fortalecer os grupos como um todo. “A ideia é que, lá no final, eles tenham autonomia, sejam sustentáveis e tenham clareza da transformação que querem causar”, pontua Tatiane Zamai, líder do Programa Juventudes.

Os integrantes dos coletivos são os protagonistas do projeto, ressalta Marcelo Nisida, mobilizador do Minha Campinas.

“São eles que conhecem os problemas e têm muita criatividade para traçar soluções. Potencializar os coletivos é estimular a potência que já existe nos territórios.”

Marcelo Nisida


Superando desafios

Devido à pandemia, todas as atividades do Coletivizada foram virtuais, o que traz dificuldades e oportunidades. “A barreira do acesso à internet aparece agora de maneira bem gritante”, observa Amanda Souza, da FEAC. Muitas vezes, o sinal é fraco ou os integrantes não possuem computador para realizar as atividades, apenas celular.

Por outro lado, a conexão virtual é capaz de aumentar o alcance das ações dos coletivos até para outras cidades e estados. Para o edital chegar aos grupos, a equipe buscou estratégias de comunicação acessíveis, – por meio de WhatsApp, por exemplo –, além de desburocratizar o processo de inscrição.

Depois do acesso digital, Marcelo Nisida identifica que o maior desafio está em estruturar a gestão. Nesse ponto, o Coletivizada faz a sua parte: a maioria dos grupos já possui ideias e sabe como fazer, mas precisa de apoio para se organizar e alcançar retorno financeiro.

“Eles têm muita potência para superar esses desafios e potencializar as ações, pensando, inclusive, em gerar renda. A maioria das atividades é voluntária, eles fazem de muita boa vontade, porque querem colaborar e, às vezes, acabam colocando isso à frente das suas necessidades”, observa Marcelo.

A partir das próximas edições, a proposta é fortalecer uma rede de coletivos em Campinas. Além da troca de experiência, a rede facilitará o alcance e diálogo com outros grupos da cidade. Uma nova edição do Coletivizada está prevista para o segundo semestre de 2021.

Série sobre coletivos

Esta é a segunda matéria de uma série especial sobre coletivos. Na primeira, apresentamos aos leitores essa forma de organização. Na seguinte, mostramos a história dos cincos coletivos participantes do Coletivizada. Confira:

Coletivos permitem fazer política de modo inovador e menos burocrático

• “Coletivizada” fortalece coletivos das periferias de Campinas

Coletivizada: conheça cinco coletivos que atuam na periferia de Campinas

“Quebrada em Movimento”: hub articula rede de coletivos na periferia 

Por Laíza Castanhari