(Ingrid Vogl)

A oficina de artesanato oferecida no Projeto Gente Nova (Progen) – unidade Vila Castelo Branco – é sempre concorrida. A atividade acontece nas manhãs de quarta-feira e reúne mulheres com mais de 60 anos. Animadas, elas aprendem novas técnicas artísticas e compartilham conhecimento, histórias e exercem seu protagonismo na entidade.

Foi a partir das portas sempre abertas do Progen, entidade parceira da Fundação FEAC, que Guimelina Rezende Rovere, 70 anos, chegou até a instituição. Acompanhada de uma amiga, Gui, como é conhecida, se interessou pela ginástica e pelo artesanato, atividades que tinham filas de espera.

Depois de algum tempo, as amigas conseguiram a tão aguardada vaga e, desde então, Gui passou a frequentar as ações. “Frequentar as atividades mudou meu jeito de viver, minhas relações com a família e amigos. Eu dormia muito, tinha tédio. Agora sempre acordo animada já pensando nas peças que vou produzir”, contou Gui, que garante já ter feito todo o enxoval da neta e se orgulha de ter vendido algumas peças que foram parar na Alemanha.

A colega de atividade, Nadja Tereza Cook Cezar, 67, também precisou aguardar um bom tempo por uma vaga no curso de artesanato, mas ela não se arrepende. “Adoro este momento. Estar aqui e aprender técnicas de artesanato, fazer amizade, conversar, rir e me divertir fez com que eu melhorasse como pessoa. Antes ficava sozinha em casa e não era de muito papo. Agora sou mais expansiva, alegre e até mais segura”, disse a aposentada.

Tanto Nadja quanto Gui já participam há quatro anos das atividades do Progen e não pensam em parar. A permanência por longos períodos das 870 pessoas de 0 a 90 anos nos serviços oferecidos pela instituição da Vila Castelo Branco é resultado de um trabalho contínuo de mais de três décadas. São desenvolvidas ações visando a prevenção de situação de risco social e violação de direitos e que valorizam o desenvolvimento integral e o fortalecimento de vínculos com a garantia de espaços de convivência, participação e cidadania.

Para Izabel Cristina Santos de Almeida, coordenadora geral do Progen, o forte vínculo que conecta os assistidos às diversas atividades oferecidas é resultado de um envolvimento intenso com a comunidade e o desenvolvimento de um serviço que se adequa à realidade e necessidade do entorno. “Aqui as pessoas se sentem pertencentes e a partir deste sentimento, elas passam a cuidar e respeitar este espaço que elas sabem ser delas. Por isso, o portão da entidade está sempre aberto para que a comunidade circule”, explicou.

A equipe de profissionais do Progen também preza pelo acolhimento de seus atendidos, que vêm de 40 bairros do entorno. Todos os dias, as crianças são recebidas na porta da entidade pelos braços abertos dos educadores que estabelecem diálogo com todos.

As conversas com os pais e familiares dos atendidos também é uma constante e tem o objetivo de dar continuidade ao trabalho social dentro de casa. Serve ainda para romper com a cultura de violência que eventualmente a família possa ter.

“Este lugar foi preparado para os atendidos, faz parte de uma política de direito deles. Aqui não precisamos falar sobre a fragilidade de quem vive todos os dias uma situação de risco social, mas a gente cuida desta vulnerabilidade”, ressaltou Izabel.

 Trabalho com idosos

Na Vila Castelo Branco, existem duas modalidades de ação: o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculo, que atende 330 crianças de 6 a 14 anos; e o Serviço de Convivência de Vínculo ligado ao Centro de Convivência Inclusivo e Intergeracional, com 540 atendidos de 0 a 90 anos, sendo 300 deles acima dos 60 anos.

O atendimento de um grande número de idosos é uma característica da unidade Vila Castelo Branco, já que são pessoas que envelheceram no bairro, que existe há cerca de 50 anos. As atividades físicas e o artesanato são as mais concorridas para este público. Segundo dados do IBGE de 2010, na região do Castelo Branco havia 4.656 idosos acima de 65 anos.

Segundo Suzana Campos Cordeiro, educadora e responsável pelo artesanato, as alunas são dedicadas e interessadas no aprendizado de novas técnicas, que muitas vezes são pesquisadas pelas mesmas e trazidas para serem desenvolvidas no Progen. “Antes eu trabalhava com crianças, mas me apaixonei pelas idosas. Elas demandam atenção e adoram conversar e trocar experiências. Este espaço é importante para elas porque é onde socializam”, afirmou.

Com o aumento da expectativa de vida, envelhecer passou a significar um tempo de se atualizar e aprender coisas novas que irão estimular a concentração e o equilíbrio.

Com incentivo adequado, os idosos possuem grande capacidade de aprender, independentemente de sua idade. Estudiosos afirmam que além da motivação, é preciso ceder o tempo necessário a eles para que a assimilação seja feita. Um novo conhecimento é capaz de transformar a relação do idoso, não apenas com a sua família, mas também com os amigos e com a sociedade, além de transformá-lo semelhante àqueles que constituem o seu universo.

Após essa transformação, a visão sobre a velhice é alterada e, nela, o idoso passa a ser um novo agente social em seu grupo de convívio, que aprende a lutar pelos seus direitos e descobrir a força da união, já que é a partir do convívio social e da troca de ideias e informações que novas motivações são criadas.

“O trabalho do Progen é muito bom, pois por meio das atividades propostas, eles visam desenvolvimento pleno do indivíduo, para além do produto a ser confeccionado no artesanato ou atividade realizada. As iniciativas objetivam em primeiro lugar as relações humanas e sociais ”, avaliou Alann Scheffer Oliveira, assessor social do Departamento de Assistência Social da Fundação FEAC.

 

Saiba mais sobre o Progen:
www.progen.org.br
www.facebook.com/ProjetoGenteNova