(Por Laura Gonçalves Sucena)

Ampliar o vínculo com as famílias e estreitar o relacionamento com as crianças e adolescentes atendidos pela instituição são algumas das propostas do projeto Crami Cultural. Em sua terceira edição, a iniciativa visa promover ações de educação social com o objetivo de garantir acesso à cultura e ao lazer por meio de visitas a espaços culturais e pedagógicos, oficinas experimentais, vivências artísticas e momentos de diversão em família.

Atendendo 270 famílias das regiões Leste e Noroeste de Campinas/SP, o Centro de Atenção aos Maus Tratos na Infância (CRAMI), instituição parceira da Fundação FEAC, iniciou as atividades de educação social com o intuito de qualificar o atendimento. “Com os bons resultados alcançados, percebemos que era necessário ampliar nossa oferta de atividades, buscando melhorar ainda mais a convivência familiar. Assim surgiu o Crami Cultural, com sua primeira edição em 2015”, explicou a coordenadora do projeto, Alessandra Saldanha.

Com a participação das famílias, sempre em esquema de rodízio para que todos sejam atendidos, o primeiro ano do projeto foi bem agitado. Além das oficinas culturais e artísticas, o pessoal visitou as cidades paulistas de Santos e Barra Bonita, passearam na Maria Fumaça Campinas, conheceram parques e museus de São Paulo/SP, foram ao zoológico e ao teatro, fizeram festa e participaram de diversas oficinas.

Ainda em 2015, o Crami Cultural realizou inúmeras ações descentralizadas fora do município e focou no atendimento ao adolescente. “Pensamos em mostrar locais e lugares que eles não tinham contato. Foi uma oportunidade de abrir um novo mundo para esses jovens”, falou Alessandra.

No ano seguinte, na segunda edição do programa, a equipe do projeto decidiu ampliar as atividades para toda a família. “Trazer a família para as atividades intergeracionais promove a socialização, fortalece o vínculo e percebemos que isso estava dando certo. No começo, muitos adolescentes não queriam que os pais participassem das atividades, mas isso foi trabalhado e os conflitos foram resolvidos na mesma hora”, relatou a psicóloga Bruna Demonico.

“Por meio do projeto, notamos que o trabalho com as questões sociais e culturais favoreceu também o vínculo entre a entidade e as famílias atendidas. As atividades e os atendimentos propiciaram o estreitamento da relação e fizeram com que a instituição se tornasse uma referência para os adolescentes, principalmente. Isso acabou facilitando inclusive a atuação das equipes juntos às famílias”, reforçou Alessandra.

Segundo a assistente social Sidnéia Carreiro, as oficinas também mostraram ser um espaço de construção e de troca de conhecimento que favoreceram o fortalecimento de vínculos familiares e com a entidade. “Nas duas edições do Crami Cultural, as oficinas promoveram a interação dos jovens com suas famílias e entre eles, além de trazer o adolescente para a instituição”, pontuou.

Ações e expressões

Com o Crami Cultural, os jovens participaram de atividades teatrais, continuaram com as visitas externas, realizaram atividades com as famílias e ainda tiveram a oportunidade de conhecer o mundo da música. O resultado foi a gravação de um CD.

“O sucesso da iniciativa foi tão grande que a segunda edição teve o trabalho ampliado. Mas o mais importante é que verificamos que quando oferecemos esses espaços, percebemos o potencial dos jovens, damos voz a eles. A música é um exemplo disso porque com a gravação do CD conhecemos o talento para a produção, composição e execução”, salientou o educador social, Paulo Roberto Marciano da Silva.

Para a equipe do Crami Cultural, o projeto mostrou a necessidade da entidade investir em uma oficina permanente para os adolescentes. Assim nasceu a oficina de teatro que ocorre todas as sextas-feiras com o objetivo de dar um espaço de expressão para os jovens, um local onde eles expõem suas potencialidades.

O jovem Everton, 18 anos, é um frequentador do grupo de teatro e foi um dos compositores do RAP gravado. “O projeto nos uniu, somos como uma família e essas experiências que vivemos aqui são pra vida toda. Na oficina de teatro estamos aprendendo muito e agora vamos fazer uma peça baseada na música que compus”, relatou.

Para Rafaela, 21 anos, todas as atividades do projeto são ótimas. “Nunca imaginei que pudéssemos fazer tantas coisas, o Crami é tudo pra mim. Aqui traz alegria pra gente e tudo que eles nos oferecem é gostoso de fazer”, complementou.

Segundo a assessora social do Departamento de Assistência Social da Fundação FEAC, Aline Romero, envolver as famílias, vítimas de violências e violações de direitos, atendidas pelo Serviço Especializado de Proteção Social à Família (SESF), em atividades artísticas, culturais e esportivas, potencializa e fortalece os laços afetivos, a autoestima e contribui para minimizar a situação que vivenciam cotidianamente. “A ação da entidade, neste serviço, possui um viés de atuação territorial que valoriza a cultura e o sentimento de pertencimento dos moradores, dando enfoque às diferentes expressões locais”, relatou.

Edição 2017

As atividades da terceira edição do Crami Cultural começam a partir de agosto. A agenda contará novamente com oficinas, atividades e visitas culturais e de lazer. Este ano, os eixos a serem trabalhados são tecnologias; artes; hábitos, costumes e tradições; e bem-estar e lazer.

De acordo com a coordenadora, a intenção para 2017 é ampliar as atividades para a terceira idade. “Sempre fazemos uma retrospectiva do que deu certo para continuarmos no caminho e decidimos complementar o trabalho com os idosos, uma vez que eles estão dentro dessas famílias. Mas muitas coisas novas virão por aí para todos os públicos”, complementou Alessandra.

Para os jovens, a programação já conta com oficinas de teatro, circo, fotografia e mídia; as famílias devem visitar locais de lazer de Campinas, como a Lagoa do Taquaral, e também comunidades de cidades vizinhas. “Para os idosos estamos pensando em oferecer atividades de consciência corporal. A intenção é ficar mais no nosso município e mostrar que temos coisas boas aqui, e locais que podem ser visitados independentemente do projeto. Mas ainda estamos em fase de estudo e muita coisa pode surgir”, frisou a coordenadora.