(Por Laura Gonçalves Sucena)

Determinada e com disciplina de sobra, Debora Knihs tinha todas as desculpas para não fazer esporte, afinal nasceu com glaucoma e aos 12 anos perdeu totalmente a visão. Mas isso não foi exatamente um problema para a adolescente da cidade de Brusque, interior de Santa Catarina, que atualmente é campeã brasileira de parakaratê e tem outras 12 medalhas no currículo.

Debora conta que quando perdeu a visão a vida ficou muito difícil. “Não queria aceitar e me isolei, nem mesmo queria aprender o braile. Mas aos poucos percebi que não dava para ficar assim e me encontrei no esporte. O período difícil acabou indo embora e eu percebi que podia ir além”, afirmou.

E o esporte entrou na vida de Debora com força total. A jovem, já com 18 anos, resolveu fazer atletismo e começou a competir em Joinville/SC. Lá, se destacou na modalidade e treinou durante alguns anos, colecionando diversas medalhas na categoria.

Mais tarde, a atleta acabou se mudando para Campinas/SP. “Depois que me mudei, por causa do meu marido, tive que parar com o atletismo porque naquela época não havia a modalidade no município. Resolvi fazer natação e também me destaquei, mas parei com o esporte porque tive uma lesão grave”, falou.

Nas andanças por Campinas, a atleta também conheceu o Centro Cultural Louis Braille, instituição parceira da Fundação FEAC, onde realizou trabalho voluntário e é colaboradora. “Procuro fazer diversas atividades e acabei dando aula de informática na instituição. Também estou sempre por aqui e ajudo no que for preciso”, admitiu.

Para o coordenador da instituição, que também é marido da atleta, Devanir Lima, o importante é incentivar a prática esportiva para o deficiente. “Pensamos no esporte não só como competição e sim como a reabilitação, pois ajuda na coordenação motora, na questão social e na autoestima. A Debora se encontrou no esporte e isso foi um ganho para sua vida. Mesmo aqui no Braille, incentivamos nossos usuários a praticarem algum tipo de esporte, oferecemos aulas e temos parcerias com academias”, explicou.

Praticar esporte com regularidade traz inúmeros benefícios para a saúde física e mental dos praticantes, além de melhorar a qualidade de vida. Para as pessoas com deficiência, a prática esportiva representa muito mais que saúde.

“Além dos benefícios para o corpo, no aspecto social o esporte proporciona a oportunidade de socialização entre pessoas com e sem deficiências. Também traz mais independência no dia a dia, sem mencionar a percepção que a sociedade passa a ter das pessoas com deficiência, acreditando nas suas inúmeras potencialidades”, frisou Devanir.

Debora garante que são vários os aspectos positivos que o esporte gera. “Com certeza melhora a condição cardiovascular dos praticantes, aprimora a força, a agilidade, o equilíbrio e a coordenação motora. E no aspecto psicológico, o esporte dá autoconfiança e autoestima. Sou uma pessoa segura e tenho muita vontade de alcançar meus objetivos”, garantiu.

De acordo com o assessor social do Departamento de Assistência Social (DAS) da Fundação FEAC, Alann Scheffer Oliveira, o paradesporto contribui significativamente para as pessoas com deficiência. “O esporte dá condições para que as pessoas vislumbrem outras possibilidades de vida, mesmo com algum tipo de deficiência. Ele vai além da preparação física e proporciona ganhos emocionais, cognitivos e sociais”, resumiu.

Campeonatos e medalhas

Dura na queda, Debora foi a percussora do parakaratê no Brasil. “Estou abrindo as portas do esporte para outras mulheres e espero que isso dê resultados porque é muito complicado competir sem apoio”, pontuou.

A atleta, que no ano passado ficou em terceiro lugar no mundial, disputado na Suécia, explica que a maior dificuldade encontrada até agora é em relação a falta de patrocínio. “Estou treinando duro, me esforço muito para obter bons resultados, mas é muito difícil ter que arcar com todas as despesas. Estou em busca de patrocínio e de pessoas que acreditem nos benefícios do esporte”, enfatiza.

Entre as competições que a atleta já participou, Debora destaca os campeonatos brasileiros, o mundial e o Arnold Classic – campeonato multiesportivo do astro de Hollywood, Arnold Schwarzenegger. “O esporte me dá sentimentos indescritíveis, como representar o Brasil no mundial. Outra situação que me deixou nervosa foi apresentar o Kata (sequência de movimentos) para um ator internacional”, brincou.

Para o sensei Valmir Zuza, treinador de Debora, nos treinos não há espaço para brincadeiras. “Treinar uma pessoa com deficiência visual não é fácil porque o karatê apresenta movimentos que não são usuais no dia a dia. O comum é mostrar os movimentos, mas no caso da Débora foi preciso ensiná-la a ouvir. Foi preciso paciência dos dois lados e o trabalho vem dando certo”, explicou.

Segundo o sensei, no mundial disputado Debora mostrou muita determinação e soube lidar com a pressão. “Ela tem todas as características de uma verdadeira atleta, é focada, determinada e disciplinada. Além disso, tem boa capacidade física e esses fatores são determinantes para alcançar bons resultados. Isso só me faz acreditar que ela será campeã mundial em 2018”, apostou.

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